Avaliações de casos suspeitos ou confirmados de câncer ginecológico não devem ser atrasadas
A pandemia da COVID-19 está impactando na assistência oncológica. A Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) estimam que milhares de diagnósticos de câncer deixaram (ou deixarão) de serem feitos no país nos últimos dois meses e nas próximas semanas; possivelmente até 50 mil casos deixaram (ou deixarão) de serem diagnosticados.
Se diagnosticados precocemente, a maioria dos tumores ginecológicos é curável, sendo o tratamento cirúrgico o seu pilar. Para falar da importância do diagnóstico destas doenças, convido a Dra. Paola Gaston Giostri, ginecologista e mestre em saúde da mulher pela UFMG.
"Muitas mulheres estão deixando sua saúde de lado com medo de procurar assistência médica e ficarem mais expostas ao coronavírus, porém alguns sintomas e cuidados não podem esperar.
O câncer de colo do útero é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina, com exceção do câncer de pele não melanoma (atrás do câncer de mama e do colorretal), e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). O rastreamento no Brasil é preconizado para pacientes que já tiveram relação sexual dos 25 aos 64 anos através do exame preventivo do colo uterino ou Papanicolaou. Após dois resultados anuais negativos, esse intervalo pode aumentar para cada três anos.
Então, pacientes que estão com muito atraso na realização deste exame devem procurar um ginecologista, principalmente se apresentarem algum sintoma de suspeição como sangramento após as relações sexuais ou sangramento vaginal intermitente, secreção vaginal anormal com cheiro forte e dor abdominal associada a queixas urinárias ou intestinais.
Já o câncer de ovário é a segunda neoplasia ginecológica mais comum, atrás apenas do câncer de colo uterino. Neste caso, não está indicado rastreamento para a população geral e na maioria dos casos ele não manifesta sintomas específicos na fase inicial. Alguns quadros devem chamar a atenção das pacientes para procurar assistência médica, como inchaço e dor abdominal, mudança do hábito intestinal e/ou urinário, falta de apetite e perda de peso, além de fadiga e cansaço.
Na maior parte das vezes esses sintomas não são causados por câncer, mas é importante que eles sejam investigados por um médico, principalmente se não melhorarem em poucos dias.
Por último, devemos citar o câncer de endométrio, que é o tipo mais comum dentre os cânceres do corpo uterino e mais frequente nas mulheres que já se encontram na menopausa. Também não há evidência científica para seu rastreamento, por isso não é recomendado. Mas alguns sintomas podem indicar a doença que, se diagnosticada numa fase inicial, possibilita maior chance de tratamento. Podemos citar o sangramento vaginal após a menopausa como principal deles, além da dor pélvica, falta de apetite e perda de peso.
Pacientes sabidamente de grupos de risco para desenvolvimento de câncer como aquelas com história familiar positiva ou mutações genéticas não devem descuidar do controle ginecológico, assim como as que já tem diagnóstico de câncer e estão em tratamento ou acompanhamento.
Sabemos que no momento a pandemia da COVID-19 é a prioridade em saúde pública, mas não podemos esquecer a atenção oncológica necessária a pacientes com diagnóstico ou suspeita de tumores ginecológicos.
Tem alguma dúvida ou gostaria de sugerir um tema? Escreva pra mim: carolinavieiraoncologista@gmail.com
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